Os Bancos Federais foram
preponderantes para a política agrícola dos governos militares, especialmente o
Banco do Brasil que, em 1970, segundo informações encontradas em seu site,
possuía pouco mais de quinhentas unidades em funcionamento no país, tendo
atingido, no final do governo do presidente Figueiredo, mais de três mil
unidades, por isso se fez presente em cerca de cinqüenta por cento dos
municípios brasileiros, proporcionando ao produtor rural todo o apoio possível
para que ele preparasse a terra, plantasse, colhesse e comercializasse a sua
safra.
A expansão do Banco do Brasil foi um
reflexo do que aconteceu com a atividade rural, pois como o Governo canalizava
somas gigantescas de dinheiro para o homem do campo, o povo cobrava a presença
de um agente financeiro em seu município para disseminar o crédito e, por isso,
frequentemente eram abertas agências do banco em todos os recantos do país. A
instalação de uma agência do Banco do Brasil em uma cidade do interior era tida
como sinal de prosperidade. A data da inauguração da agência era comemorada com
muita festa pela comunidade. “A lua de mel” entre esta e os funcionários
daquela se estendia por muito tempo.
O Banco do Brasil, através de sua
vasta rede de agências espalhadas por quase todos os recantos do País, foi
vital para o propósito do Governo de oferecer crédito ao maior número possível
de agricultores. O Banco, como esteve durante todo o Regime Militar de braços
dados com o homem do campo, diga-se, os donos de terras, consolidou uma imagem
altamente positiva junto à sociedade, tanto que o seu funcionário, mesmo não
tendo um salário tão significativo, era muito bem visto pelas comunidades e
sempre tido como uma pessoa de destaque onde morava.
Para que se tenha uma nítida noção
do que ocorreu com o Banco do Brasil na década de setenta, basta que se mostre
que o número de seus servidores, segundo informações encontradas em seu site,
pulou de 65 mil no final de 1975, para 118 mil em dezembro 1980. Esse
crescimento percentual ultrapassa cento e oitenta e um por cento em um curto
período de cinco anos.
Não há o que se questionar quanto à
importância do Banco do Brasil como agente do Governo Federal, pois foi por
meio dele que o crédito chegou às mãos dos mais diversos segmentos de
produtores que habitavam os mais distantes povoados e sítios do país, tendo em
vista que onde quer que se imagine, lá está o Banco instalado e atuando ao lado
do trabalhador rural.
Não teria como se pensar em uma
missão tão arrojada sem a presença de uma Instituição tão sólida e confiável
como o Banco do Brasil, que ainda hoje se constitui em agente financeiro do
Governo Federal, e principal parceiro do homem do campo. A década de setenta é
um marco na história da agropecuária brasileira, época em que houve
efetivamente o nascimento das grandes fronteiras agrícolas que aí estão e que
puseram o país na posição de destaque que ostenta a partir da virada do século.
De acordo com matéria publicada no
site do Ministério da Agricultura, é o Brasil atualmente o segundo do mundo na
produção de soja e o primeiro na de café, de suco de laranja e de
cana-de-açúcar, despontando como país de atividade rural altamente
desenvolvida, capaz de competir no mercado externo com as principais potências
do planeta.
O Banco do Brasil não tem sido
importante apenas como agente financiador da atividade rural; ele tem sido
vital para o desenvolvimento de outras atividades relacionadas com o campo,
como, por exemplo, as indústrias de máquinas agrícolas, de fertilizantes e
inseticidas, bem como as indústrias de produtos derivados da agropecuária, como
usinas de álcool e açúcar, de laticínio e de óleos vegetais.
O Banco passou por grandes
transformações na década de oitenta, com a perda da conta movimento, e na
década de noventa, quando teve de se adaptar a uma nova conjuntura econômica. O
Plano Collor causou sérios transtornos no sistema financeiro, quando confiscou
o ativo de clientes nos bancos e restringiu os repasses de recursos para
financiamento das atividades produtivas. Posteriormente, teve o Banco que
conviver com a nova realidade imposta pelo Plano Real.
Com a extinção da Conta-Movimento, o
Banco do Brasil foi autorizado a operar em todos os segmentos de mercado.
Inicia-se, assim, a transformação do Banco em conglomerado financeiro. O perfil
do Banco do Brasil sofreu transformações e, para continuar aplicando na
agricultura, teve que conseguir a chamada “Poupança Verde”, cuja captação se
destinava ao campo. A criação dessa poupança, embora tenha gerado uma fonte de
recurso para o setor rural, afetou o setor habitacional do País, tendo em vista
que a poupança, que até aquele momento se destinava exclusivamente ao
financiamento de moradia, passou a financiar também a atividade rural.
Sobre os problemas que afetaram o
desempenho do Banco do Brasil, comenta Vidotto (2004, p.04):
O
BB, por sua vez, já havia atravessado o ano de 1989 carregando um descasamento
relativo ao sistema de crédito rural da ordem de US$ 1 bilhão, também
decorrente da mudança de indexadores associada neste caso ao Plano Verão. No
ano seguinte, a queda na renda agropecuária verificada com o Plano Collor
serviu para tensionar a relação entre o banco e essa parte de sua tradicional
clientela devido a dificuldades para o banco reaver recursos emprestados. Além
disso, a adoção da Taxa Referencial (TR), criada em 1991, com o Plano Collor
II, aumentou ainda mais esse distanciamento por ser, na ótica dos produtores,
inadequada para as especificidades.
Os bancos lucravam muito com a
inflação, pois captavam depósito à vista a custo zero e aplicavam em títulos do
governo que ofereciam alta lucratividade. Com a brusca queda da inflação
ocasionada pelo Plano Real implantado em junho/julho/1994, tiveram que mudar as
estratégias de negócios para se adaptarem à nova conjuntura econômica. do
crédito rural. Nasceu daí outro contencioso que iria detonar a crise em 1995,
como será visto adiante. O Banco da Amazônia e o Banco do Nordeste, que têm no
produtor rural a sua principal clientela, conviveram também com os mesmos
problemas enfrentados pelo Banco do Brasil.
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