Além
dos inúmeros outros problemas que afetam a vida dos brasileiros, a violência é
hoje um dos que mais preocupam. O que muitos talvez não saibam é que esse
fenômeno não surgiu do nada, nem apareceu de repente, sem mais e nem menos.
Nenhum
problema social de grande magnitude nasce isoladamente. O que as pessoas
precisam saber é que esse pesadelo que estamos vivendo hoje é fruto de políticas públicas
equivocadas, que foram sendo implementadas ao longo do tempo, começando pela má
distribuição das nossas riquezas do campo, fato que ensejou uma verdadeira
debandada de pessoas da zona rural para as grandes cidades, principalmente entre os
anos 1960 e 1970. Mas não é só isso, claro. Existem várias outras razões, como
a má qualidade da nossa Educação, a desigualdade na distribuição de renda de um
modo geral, o baixo crescimento da economia, que não gera emprego suficiente
para absorver os trabalhadores disponíveis no mercado de trabalho, dentre
outros.
Em
outras ocasiões já tive a oportunidade de falar especificamente sobre o êxito
rural que muito se acentuou a partir da década de 1960, causando inchaço nos
grandes centros urbanos, que não estavam estruturados para receber milhões de
pessoas num curto espaço de tempo. Com isso houve o crescimento vertiginoso das
favelas, nas quais muitas pessoas passaram a viver sem escolas para educar os
filhos, sem emprego ou com subempregos e sem nenhuma perspectiva de futura.
E
não é só isso. Com o passar do tempo, o que seria muito natural, surgiram os
inevitáveis problemas de desestruturação de muitas famílias, com reflexos
extremamente danosos na formação dos filhos, que sem amparo dos pais, sem
escola para estudar e sem futuro, transformaram-se em moradores de ruas e em
pedintes como meio de sobrevivência.
Quem
leu o livro Capitães da Areia de Jorge Amado provavelmente entenderá mais facilmente
o resultado de crianças criadas nas ruas, que começam a vida como pedintes nos
sinais de trânsito e acabam como criminosos perigosos. E hoje mais facilmente
isso acontece em razão das drogas. Se a criança não recebe atenções dos pais no
devido tempo, não freqüenta escola e não vislumbra uma perspectiva de futuro
melhor, evidente que fica muito mais vulnerável às influências negativas.
Já
está suficientemente provado que mais do que a pobreza em termos absolutos, é a
desigualdade social um dos fatores relacionados à violência. Se a Educação é
capaz de impactar na diminuição da desigualdade, não há dúvida nenhuma de que
também contribui para uma sociedade menos violenta. Nassir Abdulaziz
Al-Nasser afirmou certa vez que “a Educação é
fundamental para tratar da ignorância e desconfiança que estão no cerne do
conflito humano. A Educação ajuda a superar estereótipos e intolerância, e a
vencer a batalha contra a ignorância”. E é isso mesmo.
Por
sua vez, ninguém pode esquecer que aqui no Brasil temos como agravantes dessa situação ainda
os maus exemplos que são dados pelos muitos políticos e empresários que se
envolvem com freqüência em escândalos de corrupção, quando são desviados vultosos valores de
recursos públicos e quase sempre acabam sem punição, principalmente quando os envolvidos são detentores de foro privilegiado.
O
fato é que a violência, como estamos vendo diariamente pela imprensa, tomou um
caminho praticamente sem volta. E essa situação, lamentavelmente, não será
revertida facilmente, nem num curto espaço de tempo. Felizmente a reversão
desse quadro seria possível, sim, desde que os Governos - estaduais, municipais
e federal -, priorizassem, sobretudo a educação, criassem empregos, investissem
em segurança pública e melhorassem a distribuição de renda. E isso, como de
antemão se pode antever, não ocorrerá tão facilmente.
O
que preocupa é que neste Brasil de “Lava-Jato”, onde os políticos, em vez de se
preocuparem com políticas públicas, visando uma melhor distribuição de renda,
cuidam dos seus próprios interesses e dos interesses de grandes grupos
empresariais, dificilmente conseguiremos superar a crise da violência, que
transformou o cidadão de bem em presidiário dentro da própria casa, sem
necessidade de tornozeleiras eletrôncas, o
acessório de monitoramento à distância que passou a decorar as pernas dos
envolvidos com o megaesquema de corrupção na Petrobrás.
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