segunda-feira, 2 de dezembro de 2013
TRANSPOSIÇÃO DAS ÁGUAS DO RIO SÃO FRANCISCO: acima de tudo, uma questão de humanidade
"Seu doutô os nordestino têm muita gratidão
Pelo auxílio dos sulista nessa seca do sertão
Mas doutô uma esmola a um homem qui é são
Ou lhe mata de vergonha ou vicia o cidadão
É por isso que pidimo proteção a vosmicê
Home pur nóis escuído para as rédias do pudê
Pois doutô dos vinte estado temos oito sem chovê
Veja bem, quase a metade do Brasil tá sem cumê
Dê serviço a nosso povo, encha os rio de barrage
Dê cumida a preço bom, não esqueça a açudage
Livre assim nóis da ismola, que no fim dessa estiage
Lhe pagamo inté os juru sem gastar nossa corage
Se o doutô fizer assim salva o povo do sertão
Quando um dia a chuva vim, que riqueza pra nação!
Nunca mais nóis pensa em seca, vai dá tudo nesse chão
Como vê nosso distino mercê tem nas vossa mãos"
(Vozes da Seca - Luiz Gonzaga)
Como tivemos a oportunidade de assistir pelo Fantástico de 1º. de dezembro de 2013, a transposição das águas do Rio São Francisco é hoje, acima de tudo, uma questão de humanidade. Não é possível que fiquemos calados diante de tanto desrespeito para com os nossos irmãos sertanejos, pessoas carentes e sofridos, que vivem à míngua de tudo, inclusive sem água sequer para beber. Enquanto isso, bilhões de reais já foram gastos nas obras de transposição das águas Rio Francisco, um trabalho que, por razões que desconhecemos, nunca termina. É triste o que ouvimos através do Fantástico. Senão vejamos: “Encontramos tanques imundos, água contaminada e entregas que não chegam nunca.” Como se vê, além do descaso do Governo para com aquele povo sofrido, ainda existem os inescrupulosos, que se aproveitam da miséria alheia, vendendo água contaminada e ainda desviando dinheiro público. Falou ainda o Fantástico: “No meio do agreste nordestino, perto de um rio seco, e de famílias que sofrem com a falta d’água, um tanque de combustíveis está à venda. O preço: R$20 mil. ‘Se for dinheiro, dá pra baixar. Botar em R$17 mil, R$18’, diz o vendedor. Até um ano atrás, o tanque era usado para estocar álcool e gasolina. A lei manda que um tanque desses, quando esgota sua vida útil, seja incinerado, destruído. Não pode transportar mais nada. Mas dois homens dizem que dá pra carregar água tranquilamente.” Isso que se vê é crime, que precisa ser apurado, para que os responsáveis sejam devidamente punidos. A dúvida é saber se de fato alguma providência será tomada por parte das autoridades competentes. Como, infelizmente, vivemos num país de faz de conta, temos as nossas dúvidas a respeito. A transposição das águas do Rio São Francisco não resolve por completo os problemas de abastecimento de água do semiárido nordestino, mas com certeza amenizaria muito o sofrimento de milhões de família. Infelizmente, as obras de transposição, apesar da indiscutível relevância, nunca foram de fato nenhuma prioridade deste Governo. E isso o povo nordestino precisa levar em consideração, muito embora muitos não o levem, uma vez que acabam deixando se iludir pela esmola que recebem do Bolsa Família, que, lamentavelmente, supre uma necessidade mais imediata, que é a de matar a fome de muitas famílias. A ideia de transposição das águas do São Francisco surgiu há muito tempo. E por trás dela existe uma grande história, rodeada de tentativas, avanços e recuos. E mesmo depois que o Governo decidiu realizá-la, ainda surgiram muitos problemas, segundo relatou ainda o Jornal Folha de São, na publicação de 23 de novembro de 2013. Senão vejamos: “Em 2007, a obra só começou após o governo derrubar ações na Justiça que denunciavam impactos ambientais e negociar o fim da greve de fome de um bispo da Bahia. A imprecisão dos projetos básicos exigiu novas licitações, renegociação de contratos e interrupção do serviço pelas empreiteiras. Os únicos trechos prontos são dois lotes feitos pelo Exército. Quem toca a obra é o Ministério da Integração Nacional, até outubro comandado por Fernando Bezerra, indicado pelo provável candidato à Presidência e governador Eduardo Campos (PSB-PE). Não há como não se reconhecer a importância da transposição das águas do Rio São Francisco para as populações dos quatro Estados do Nordeste que serão beneficiadas: Ceará, Paraíba, Pernambuco e Rio Grande do Norte. O que não é possível é o Governo fechar os olhos para um problema tão grave. E isso o Fantástico mostrou com precisão, quando afirmou: “Durante dois meses, o Fantástico investigou denúncias graves, envolvendo programas de distribuição de água em caminhões-pipa. É dinheiro público que deveria atender com dignidade as vítimas da seca. Hamilton Souza, caminhoneiro, do Piauí, conhece bem a água que leva pra população. ‘O senhor não tem coragem de beber?’, pergunta o Fantástico. ‘Ah, eu não bebo, não. pra falar a verdade, eu compro a água. Eu compro mineral e bebo’, afirma Hamilton Souza, caminhoneiro. Nossa equipe rodou mais de seis mil quilômetros em Alagoas, Pernambuco, Piauí e Bahia. E constatamos que a má qualidade da água não é o único problema. Os prazos de entrega raramente são respeitados. ‘Dia 15, você não entregou. Dia 3, não entregou. Dia 10, você não entregou quase nada de água’, disse o repórter. Uma mulher concorda que, se viesse água com frequência, quatro vezes por semana, não faltaria. ‘Se falta água, a gente tem que partir para os açudes. Beber essa água suja dos barreiros’, diz um homem.” Por entendermos que a transposição das águas do Rio São Francisco é uma necessidade inquestionável e por tudo mais que acabamos de mostrar, inclusive com base no relato do Fantástico de 1º. de dezembro de 2013, e considerando ainda que não há mais como haver recuo nas obras do projeto de transposição das águas do Rio São Francisco, só resta nos unirmos em prol dessa causa e pugnarmos por providências do Governo no sentido de concluí-las o quanto antes, já que o mais razoável é que o Governo encare esse projeto como prioridade, uma vez que dele depende um grande contingente populacional, historicamente relegado a um plano secundário, vítima de todo tipo de mazela, inclusive da discriminação de outras regiões do país, que sempre viram os nordestinos como parasitas das riquezas produzidas no Sul e Sudeste do Brasil.
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