A sétima fase da Operação Lava-Jato,
deflagrada em 14 deste mês, provocou
espanto pelo fato de ter como alvo executivos das maiores construtoras do
Brasil, que acabaram na cadeia por envolvimento nos desvios de dinheiro público,
que já é considerado o maior escândalo de corrupção da história do País. Essa etapa
da Operação é mais um desdobramento das investigações das quais o público teve
conhecimento em março deste ano. Dependendo do desenrolar dos fatos, há
possibilidade de levar alguns políticos para a prisão.
A Operação Lava-Jato consiste numa investigação
da Polícia Federal e do Ministério Público Federal a respeito de uma
organização criminosa formada por políticos, funcionários públicos, executivos
de empreiteiras e doleiros. O esquema envolvia grandes empreiteiras que
combinavam entre si a distribuição de contratos com órgãos públicos, em
especial a Petrobras, mediante o pagamento de propina e desvio de dinheiro
público, para serem repassados a partidos políticos.
A Operação Lava-Jato, deflagrada em 17 de março de 2014, visava, inicialmente, o combate ao crime de lavagem de dinheiro, com foco na atuação do doleiro Alberto Youssef e do ex-diretor de Abastecimento da Petrobras Paulo Roberto Costa, que era um dos alvos. Através de escutas telefônicas, documentos apreendidos e depoimentos, a PF e o MPF chegaram ao esquema de desvio de dinheiro público.
Segundo o MPF, as construtoras se organizavam
previamente e combinavam com quem ficaria a execução de cada uma das obras
oferecidas pelo poder público. O valor das ofertas apresentadas nas licitações já
eram acrescidos dos porcentuais das propinas que seriam dadas a funcionários
públicos e partidos políticos, verbas repassadas pelas empreiteiras aos
corruptos por meio de empresas de “consultoria” fantasmas, para facilitar a
lavagem do dinheiro desviado.
Pelas informações da PF e do MPF, o doleiro Alberto Youssef atuava como operador financeiro do esquema. O ex-diretor de Abastecimento da Petrobras Paulo Roberto Costa, por sua vez, agia como intermediário junto aos políticos. Segundo Costa afirmou à Justiça, o esquema funcionava igualmente noutras diretorias da Petrobras, como as de Serviços, Gás e Energia, Produção e Internacional. Em razão disso, mais um ex-diretor, Renato de Souza Duque, acabou sendo preso.
Como consequências das investigações, a sétima fase da Lava-Jato atingiu executivos das principais empreiteiras do país, como a Camargo Corrêa, OAS, UTC/Constram, Odebrecht, Mendes Júnior, Engevix, Queiroz Galvão, Iesa Óleo & Gás e Galvão Engenharia.
As investigações do esquema de lavagem de dinheiro apontam para movimentação indevida de cerca de 10 bilhões de reais. Não se sabe com segurança, no entanto, o montante exato dos desvios. Em despacho divulgado em novembro, o juiz federal Sergio Moro, responsável pelo caso, afirmou que os danos sofridos apenas pela Petrobras “atingem milhões ou até mesmo bilhões de reais”.
A investigação está sendo ampliada,
à medida que mais informações são obtidas pela Polícia Federal e pelo
Ministério Público Federal. Ainda que o foco esteja na Petrobras, outras
empresas públicas já apareceram nas investigações, como a Companhia Energética
de Minas Gerais (Cemig), uma das principais concessionárias de energia elétrica
do Brasil, que teria firmado contrato com uma empresa de fachada pertencente a
Alberto Youssef.
Os depoimentos de Costa e Youssef indicam que o dinheiro repassado a partidos políticos serviu para irrigar os cofres do PT, PMDB e PP. E com isso acabaram chegando a João Vaccari Neto, tesoureiro do PT, e a Fernando Soares, conhecido como “Fernando Baiano”, operador do PMDB.
Além disso, segundo afirmações de Paulo
Roberto Costa outros partidos políticos foram beneficiados com o dinheiro do
esquema, como o pagamento de 20 milhões de reais para o caixa 2 da campanha do
então candidato à reeleição ao governo de Pernambuco, Eduado Campos (PSB), em 2010. Outro nome citado é o da
senadora Gleisi Hoffmann (PT-PR), cuja campanha ao Senado, segundo Costa,
recebeu 1 milhão de reais do esquema de desvios da estatal.
Segundo já se apurou até agora, o montante desviado dos cofres da Petrobras é o maior de que se tem notícia até hoje. Por outro lado, há fortes indícios de que esses desvios já rondam a estatal há muitos anos. Não são, portanto, exclusividades dos governos do PT.
Como, no entanto, as investigações da Lava-Jato
envolvem pessoas com foros privilegiados, seguirão em duas frentes distintas.
Enquanto o juiz federal Sérgio Moro continua com suas diligências em Curitiba a
fim de provar o esquema criminoso envolvendo as empreiteiras, doleiros e
empresas públicas, o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, analisa as
provas para, perante o STF, conduzir a investigação dos detentores de foro
privilegiado, os políticos.
Nenhum comentário:
Postar um comentário