domingo, 18 de maio de 2014

A SEMENTE DA PAIXÃO USADA PELOS AGRICULTORES DA PARAÍBA RESPEITA O CLIMA, O SOLO, O AMBIENTE E A CULTURA DAS PESSOAS



"Produção do campo é armazenada em garrafas pet e em silos. Cerca de 8,2 mil famílias trabalham com esse tipo de semente no estado." (Site do Globo Rural).


O sertanejo do semiárido nordestino é um valente sofredor, que, apesar da dureza da vida, trabalha e busca solução para os seus diversos problemas, notadamente para o principal deles, a seca que sempre ronda os seus domínios. A respeito dessa tenaz busca do agricultor sertanejo por meios para amenizar os efeitos da seca, o Globo Rural desse domingo, 18 de maio de 2014, divulgou uma interessante matéria. Confira o que diz o artigo:

“Um grupo de pequenos agricultores da Paraíba usa sementes crioulas de variedades tradicionais que consegue resistir à seca. Os agricultores formam as lavouras com materiais que mais se adaptam às propriedades. Em uma região onde o clima é tão diverso como no semiárido, os grãos representam um patrimônio da agricultura local.

Há uma relação muito forte dos agricultores paraibanos com as sementes crioulas, chamadas na região de sementes de paixão. ‘A semente da paixão é uma semente que as famílias vêm guardando, conservando, selecionando. É uma semente que respeita o clima, o solo, o ambiente e a cultura das pessoas. Ela tem esse nome porque nós somos apaixonados por ela. Ela é quem faz com que a gente tenha vida na agricultura familiar’, diz Eusébio Albuquerque, presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais.”

A seca que assolou o semiárido nordestino nos últimos anos é uma das maiores da história. E em 2014, pouco choveu. Em alguns setores, sequer choveu para fazer água para o povo beber. Mesmo assim, graças ao esforço do povo, que ao longo do tempo seleciona sementes resistentes à seca ainda se consegue plantar e colher alguma coisa. Veja o que diz a reportagem do Globo Rural:

“Família que planta unida, também colhe unida. No município de Queimadas, o agricultor Pedro de Luna e os dois filhos trabalham na lida com o feijão preto, um dos principais produtos da propriedade. O grão foi plantado com sementes tradicionais.

A agricultora Silvia Pereira também planta, colhe e preserva a tradição das sementes da paixão. Ela divide o trabalho com o pai, que ficou entusiasmado com o resultado visto no campo. Além do feijão, os agricultores estão multiplicando uma das últimas novidades introduzidas no roçado: um tipo de sorgo mais rentável do que estavam acostumados a produzir na propriedade. 

Aos poucos os agricultores vão formando as lavouras com materiais que mais se adaptam às propriedades. Em uma região onde o clima é tão diverso como no semiárido, as sementes da paixão representam um patrimônio da agricultura local. Mas não significa que se determinada variedade vai bem numa área, ela terá um bom desempenho em outra. São tantos os microclimas que não é raro encontrar lavouras vistosas quase ao lado de terrenos muito secos.” 
O Governo não demonstra muita sensibilidade com o problema, contentando-se com o oferecimento do Bolsa Família, como se este resolvesse definitivamente o problema da Região. Hoje, infelizmente, a economia do semiárido nordestino, com exceções de alguns polos de agricultura irrigada, criação de camarão e algumas outras atividades, depende basicamente do Bolsa Família, das aposentadorias dos trabalhadores rurais e do Fundo de Participação dos Municípios (FPM). O fato é que entra Governo e sai Governo, e nenhum deles apresentou até agora uma solução definitiva para o problema do semiárido nordestino. Os agricultores, no entanto, continuam buscando alternativas, como bem falou o Globo Rural:

“A experiência do agricultor que vive na região faz com que ele tenha sabedoria para esperar a pouca chuva. Muitas vezes, 180 milímetros distribuídos em quatro meses são suficientes para transformar a paisagem e levar fartura para a produção.

O trabalho de preservação conta com o apoio de várias instituições. O agrônomo Emanoel Dias coordena o Núcleo das Sementes da Paixão na ASPTA, organização não-governamental que valoriza a agricultura familiar e a agroecologia. ‘É uma beleza visualizar a diversificação. Cada um tem um papel. O milho para alimentação das famílias, para alimentação dos animais. O agricultor se sente valorizado porque produz, se alimenta e também alimenta a sociedade’, diz.”

E a transposição das águas do Rio São Francisco, que poderia servir para amenizar os efeitos das estiagens, ainda continua só no sonho. Como tivemos a oportunidade de assistir pelo Fantástico de 1º. de dezembro de 2013, a transposição das águas do Rio São Francisco é hoje, acima de tudo, uma questão de humanidade. Não é possível que fiquemos calados diante de tanto desrespeito para com os nossos irmãos sertanejos, pessoas carentes e sofridos, que vivem à míngua de tudo, inclusive sem água sequer para beber. Enquanto isso, bilhões de reais já foram gastos nas obras de transposição das águas Rio Francisco, um trabalho que, por razões que desconhecemos, nunca termina. Mas o bravo sertanejo continua a sua luta, como esclarece a matéria publicada pelo Globo Rural. Vejamos:


“A ideia de uma lavoura de sementes da paixão é aproveitar o máximo possível as áreas da pequena propriedade. No mesmo roçado tem fava de moita e fava de rama que trepa no pé de milho. As culturas ficam juntas e misturadas. Isso sem contar que até poucos dias atrás, o feijão também dividia o espaço na propriedade do agricultor José de Oliveira Luna, no município de Alagoa Nova. Com tanta variedade na mesma área, a lavoura fica com a aparência meio tumultuada. A escolha dos grãos que irão servir de semente para o próximo plantio é feita de maneira criteriosa. Em outra área da propriedade, o agricultor apostou foi em um consórcio onde o destaque é a abóbora, conhecida como jerimum na região. 

A fartura que sai do campo é guardada em garrafas pet e em silos. Cerca de 8,2 mil famílias trabalham com as sementes da paixão em todo o estado da Paraíba. Algumas famílias reservaram um cômodo da casa para guardar o material inclusive dos vizinhos. Os chamados bancos comunitários armazenam um tesouro colorido. Depois de selecionar e secar as sementes, os agricultores deixam a produção armazenada até o próximo período de chuva.

Nas sementes que vão para o silo, o agricultor José de Oliveira Luna mistura uma colher de pimenta do reino para cada dez quilos de feijão para não dar caruncho. Ele tampa bem o recipiente vedado com sabão de pedra.

Por conta do resgate das variedades crioulas o estado da Paraíba publicou uma lei que, somada a uma resolução federal na legislação de sementes e mudas, contribuiu para o fortalecimento desse trabalho. Para compartilhar a riqueza da produção, os agricultores da Paraíba promovem encontros para trocar sementes. Passar para frente, de um vizinho para outro ou de pai para filho, as sementes crioulas se tornaram uma bandeira de resistência à seca e de afirmação da agricultura familiar do Nordeste.

O trabalho com sementes crioulas existe em vários estados do Brasil. Essa diversidade genética local garante a sobrevivência da agricultura familiar.”

            Como podemos ver, os agricultores do semiárido estão fazendo a sua parte. Infelizmente os problemas são muitos.  E a tão sonhada transposição das águas do Rio S. Francisco não sai. Por enquanto ainda está só na promessa. Por entendermos que a transposição das águas do Rio São Francisco é uma necessidade inquestionável, e considerando ainda que não há mais como haver recuo nas obras do projeto de transposição das águas do Rio São Francisco, só resta nos unirmos em prol dessa causa e pugnarmos por providências do Governo no sentido de concluí-las o quanto antes, já que o mais razoável é que o Governo encare esse projeto como prioridade, uma vez que dele depende um grande contingente populacional, historicamente relegado a um plano secundário, vítima de todo tipo de mazela.


Nenhum comentário: