"Produção do campo é armazenada em garrafas pet e em
silos. Cerca de 8,2 mil famílias trabalham com esse tipo de semente no estado." (Site do Globo Rural).
O sertanejo do semiárido nordestino é
um valente sofredor, que, apesar da dureza da vida, trabalha e busca solução
para os seus diversos problemas, notadamente para o principal deles, a seca que
sempre ronda os seus domínios. A respeito dessa tenaz busca do agricultor sertanejo por meios para amenizar os
efeitos da seca, o Globo Rural desse domingo, 18 de maio de 2014, divulgou uma
interessante matéria. Confira o que diz o artigo:
“Um grupo de pequenos agricultores da Paraíba usa sementes crioulas de variedades
tradicionais que consegue resistir à seca. Os agricultores formam as
lavouras com materiais que mais se adaptam às propriedades. Em uma região onde
o clima é tão diverso como no semiárido, os grãos representam um patrimônio da
agricultura local.
Há uma relação muito
forte dos agricultores paraibanos com as sementes crioulas, chamadas na
região de sementes de paixão. ‘A semente da paixão é uma semente que as
famílias vêm guardando, conservando, selecionando. É uma semente que respeita o
clima, o solo, o ambiente e a cultura das pessoas. Ela tem esse nome porque nós
somos apaixonados por ela. Ela é quem faz com que a gente tenha vida na
agricultura familiar’, diz Eusébio Albuquerque, presidente do Sindicato dos
Trabalhadores Rurais.”
A seca que assolou o semiárido
nordestino nos últimos anos é uma das maiores da história. E em 2014, pouco
choveu. Em alguns setores, sequer choveu para fazer água para o povo beber.
Mesmo assim, graças ao esforço do povo, que ao longo do tempo seleciona
sementes resistentes à seca ainda se consegue plantar e colher alguma coisa. Veja
o que diz a reportagem do Globo Rural:
“Família que planta unida, também
colhe unida. No município de Queimadas, o agricultor Pedro de Luna e os dois
filhos trabalham na lida com o feijão preto, um dos principais produtos da
propriedade. O grão foi plantado com sementes tradicionais.
A agricultora Silvia Pereira também
planta, colhe e preserva a tradição das sementes da paixão. Ela divide o
trabalho com o pai, que ficou entusiasmado com o resultado visto no campo. Além
do feijão, os agricultores estão multiplicando uma das últimas novidades
introduzidas no roçado: um tipo de sorgo mais rentável do que estavam
acostumados a produzir na propriedade.
Aos poucos os agricultores vão
formando as lavouras com materiais que mais se adaptam às propriedades. Em uma
região onde o clima é tão diverso como no semiárido, as sementes da paixão
representam um patrimônio da agricultura local. Mas não significa que se
determinada variedade vai bem numa área, ela terá um bom desempenho em outra.
São tantos os microclimas que não é raro encontrar lavouras vistosas quase ao
lado de terrenos muito secos.”
O Governo não demonstra muita
sensibilidade com o problema, contentando-se com o oferecimento do Bolsa
Família, como se este resolvesse definitivamente o problema da Região. Hoje,
infelizmente, a economia do semiárido nordestino, com exceções de alguns polos
de agricultura irrigada, criação de camarão e algumas outras atividades,
depende basicamente do Bolsa Família, das aposentadorias dos trabalhadores
rurais e do Fundo de Participação dos Municípios (FPM). O fato é que entra
Governo e sai Governo, e nenhum deles apresentou até agora uma solução
definitiva para o problema do semiárido nordestino. Os agricultores, no entanto,
continuam buscando alternativas, como bem falou o Globo Rural:
“A experiência do
agricultor que vive na região faz com que ele tenha sabedoria para esperar a
pouca chuva. Muitas vezes, 180 milímetros distribuídos em quatro meses são
suficientes para transformar a paisagem e levar fartura para a produção.
O trabalho de preservação conta com o
apoio de várias instituições. O agrônomo Emanoel Dias coordena o Núcleo das
Sementes da Paixão na ASPTA, organização não-governamental que valoriza a
agricultura familiar e a agroecologia. ‘É uma beleza visualizar a
diversificação. Cada um tem um papel. O milho para alimentação das famílias,
para alimentação dos animais. O agricultor se sente valorizado porque produz,
se alimenta e também alimenta a sociedade’, diz.”
E a transposição das águas do Rio São
Francisco, que poderia servir para amenizar os efeitos das estiagens, ainda
continua só no sonho. Como tivemos a oportunidade de assistir pelo Fantástico
de 1º. de dezembro de 2013, a transposição das águas do Rio São Francisco é
hoje, acima de tudo, uma questão de humanidade. Não é possível que fiquemos
calados diante de tanto desrespeito para com os nossos irmãos sertanejos,
pessoas carentes e sofridos, que vivem à míngua de tudo, inclusive sem água
sequer para beber. Enquanto isso, bilhões de reais já foram gastos nas obras de
transposição das águas Rio Francisco, um trabalho que, por razões que desconhecemos,
nunca termina. Mas o bravo sertanejo continua a sua luta, como esclarece a matéria
publicada pelo Globo Rural. Vejamos:
“A ideia de uma lavoura de sementes da
paixão é aproveitar o máximo possível as áreas da pequena propriedade. No mesmo
roçado tem fava de moita e fava de rama que trepa no pé de milho. As culturas
ficam juntas e misturadas. Isso sem contar que até poucos dias atrás, o feijão
também dividia o espaço na propriedade do agricultor José de Oliveira Luna, no
município de Alagoa Nova. Com tanta variedade na mesma área, a lavoura fica com
a aparência meio tumultuada. A escolha dos grãos que irão servir de semente
para o próximo plantio é feita de maneira criteriosa. Em outra área da
propriedade, o agricultor apostou foi em um consórcio onde o destaque é a
abóbora, conhecida como jerimum na região.
A fartura que sai do campo é guardada
em garrafas pet e em silos. Cerca de 8,2 mil famílias trabalham com as sementes
da paixão em todo o estado da Paraíba. Algumas famílias reservaram um cômodo da
casa para guardar o material inclusive dos vizinhos. Os chamados bancos
comunitários armazenam um tesouro colorido. Depois de selecionar e secar as
sementes, os agricultores deixam a produção armazenada até o próximo período de
chuva.
Nas sementes que vão para o silo, o
agricultor José de Oliveira Luna mistura uma colher de pimenta do reino para
cada dez quilos de feijão para não dar caruncho. Ele tampa bem o recipiente
vedado com sabão de pedra.
Por conta do resgate das variedades
crioulas o estado da Paraíba publicou uma lei que, somada a uma resolução
federal na legislação de sementes e mudas, contribuiu para o fortalecimento
desse trabalho. Para compartilhar a riqueza da produção, os agricultores da
Paraíba promovem encontros para trocar sementes. Passar para frente, de um
vizinho para outro ou de pai para filho, as sementes crioulas se tornaram uma
bandeira de resistência à seca e de afirmação da agricultura familiar do
Nordeste.
O trabalho com sementes crioulas
existe em vários estados do Brasil. Essa diversidade genética local garante a
sobrevivência da agricultura familiar.”
Como
podemos ver, os agricultores do semiárido estão fazendo a sua parte. Infelizmente
os problemas são muitos. E a tão sonhada
transposição das águas do Rio S. Francisco não sai. Por enquanto ainda está só
na promessa. Por entendermos que a transposição das águas do Rio São
Francisco é uma necessidade inquestionável, e considerando ainda que não há
mais como haver recuo nas obras do projeto de transposição das águas do Rio São
Francisco, só resta nos unirmos em prol dessa causa e pugnarmos por
providências do Governo no sentido de concluí-las o quanto antes, já que o mais
razoável é que o Governo encare esse projeto como prioridade, uma vez que dele
depende um grande contingente populacional, historicamente relegado a um plano
secundário, vítima de todo tipo de mazela.
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