sábado, 9 de novembro de 2013

CORRUPÇÃO NO BRASIL É ESPORTE DE MUITOS POLÍICOS E EMPRESÁRIOS DE SUCESSO. ENQUANTO ISSO O POVO PAGA A CONTA

Ei, você aí! Me dá um dinheiro aí! Me dá um dinheiro aí! Não vai dar? Não vai dar não? Você vai ver a grande confusão Que eu vou fazer bebendo até cair Me dá me dá me dá, ô! Me dá um dinheiro aí! (Ivan Ferreira)
           Não poderia haver nome mais apropriado para o Brasil de que País do Carnaval. Aliás, pensando bem, talvez fosse melhor País Carnaval, não com aquele sentido que se diz normalmente, de festa, de alegria, de fantasia. Carnaval é o que os corruptos fazem com o dinheiro do trabalhador honesto, que todos os meses tem uma grande fatia do seu minguado salário abocanhado pelo Imposto de Renda. Muito embora saibamos que tão somente cerca de 1% (um por cento) dos casos de corrupção no Brasil são denunciados e investigados, ainda assim, são tantos que ninguém agüenta mais ouvir o noticiário televisivo.

           E o pior: esse monstro chamado corrupção tem raízes plantadas nos mais diversos rincões do país. E manifesta-se de diversas maneiras, desde um Guarda de Trânsito que cria uma situação para barganhar uma propina, até um político corrupto que vota a favor de um Projeto de Lei em troca de dinheiro. Os escândalos são tantos e tão grandes que um caso como o da Operação Mãos Limpas da Polícia Federal do Amapá - que segundo estimativas do Superintendente da época, os desvios de dinheiro público giravam em torno de um bilhão de reais -, sequer figura entre os maiores. E o mais triste.

           Esse histórico de escândalos vem de longa data. Parece que muitos deles o povo sequer lembra mais. E se fizermos uma retrospectiva, quase ninguém fica preso em razão desses desvios de dinheiro público. O noticiário dos últimos dias não tem outro assunto, a não ser as falcatruas dos Auditores do Município de São Paulo acusados pelo desvio de cerca de R$ 500.000,00 (quinhentos milhões de reais). Se, no entanto, retroagirmos um pouquinho no tempo, facilmente lembraremos do escândalo que ocorreu também naquele Município que ficou conhecimento pelo nome de “Máfia dos Fiscais”, ou “me dá um dinheiro aí.” A maneira como agia a “Máfia dos Fiscais” tem muita semelhança com o que ocorreu agora com a ‘Máfia dos Auditores”. Naquela ocasião, comerciantes e ambulantes (mesmos aqueles com licença para trabalhar) eram colocados contra a parede e ameaçados. E caso não pagassem a propina desejada pelos corruptos, teriam as mercadorias apreendidas e os projetos de obras embargados. O primeiro escândalo estourou em 1998, no governo de Celso Pitta. Dez anos mais tarde, uma nova denúncia deu origem à Operação O Rapa. Trecho de notícia encontrada no site do Estadão.com.br afirma:

           “A Justiça decretou ontem a prisão preventiva de 9 de 11 acusados de extorquir dinheiro de ambulantes do Brás, na zona leste de São Paulo. Eles foram detidos na semana passada, na Operação O Rapa. Embora tivesse indícios da participação dos outros dois indiciados no esquema de arrecadação de propina, a polícia disse não ver necessidade de mantê-los presos. A partir de agora, o principal foco da investigação conduzida pela Unidade de Inteligência Policial (UIP) será o destino de mais de R$ 1 milhão amealhado por mês pelas duas quadrilhas que agiam dentro da Subprefeitura da Mooca.”

            Como podemos comprovar, a prática de cobrança de propinas por parte de Fiscais e Auditores do Município de São Paulo não é de agora.
A safadeza no Brasil é coisa rotineira. E não são tão somente os políticos que desviam dinheiro público. E como exemplo de falcatruas de empresários inescrupulosos, citamos aquele caso de um paciente que num único dia foi atendido 201 (duzentas e uma) vezes. A cobrança de tantas consultas num só dia, por atendimento a um único paciente, convenhamos, é muita certeza da impunidade e da incompetência do serviço público. A respeito do assunto, vejamos a notícia publicada no Jornal Folha de S. Paulo:

           “Em um único dia, um paciente ‘conseguiu ser atendido’ 201 vezes em uma clínica de Água Branca, no Piauí. A proeza não parou por aí - o valor das duas centenas de consultas foi cobrado do SUS. O mesmo local cobrou tratamentos em nome de mortos. Casos assim explicam como, em cinco anos, cerca de R$ 502 milhões de recursos públicos do SUS foram aplicados irregularmente por prefeituras, governos e instituições públicas e particulares. Esse meio bilhão, agora cobrado de volta pelo Ministério da Saúde, refere-se a irregularidades identificadas em 1.339 auditorias feitas de 2008 a 2012 por equipes do Denasus (departamento nacional de auditorias do SUS) e analisadas uma a uma pela Folha.”

           Mais recentemente, em 2005 no Governo Lula, tivemos o Escândalo do Mensalão. Este, como ainda é recente, e dada a grande repercussão, dispensa maiores comentários. Como ainda não faz tanto tempo, acredito que muitas pessoas ainda se recordam do escândalo que envolveu desvio de dinheiro público da Superintendência de Desenvolvimento da Amazônia, no qual muito se falou acerca do Senador Jader Barbalho. Esse caso, infelizmente, parece que já foi esquecido, uma vez que dele nunca mais ouvimos falar. Preso por caso das falcatruas: não conheço ninguém. Jader Barbalho na época renunciou ao Mandato. Hoje, como todos sabemos, elegeu-se Senador e continua dando as cartas lá em Brasília. Dentre tantas outras, tivemos também a Operação Navalha.

           Dessa ainda hoje remanesce a lembrança em Macapá, que consiste no esqueleto de concreto onde deveria ter sido erguido o novo aeroporto da cidade. Como todos sabem, atuando em nove estados e no Distrito Federal, empresários ligados à Construtora Gautama pagavam propina a servidores públicos para facilitar licitações de obras. Até projetos ligados ao Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) e ao Programa Luz Para Todos foram fraudados. Como aconteceu em situações semelhantes, ninguém continua preso. Regredindo um pouco aos anos noventa, vamos nos deparar com o memorável escândalo dos Anões do Orçamento. Sete deputados (os tais “anões”) da Comissão de Orçamento do Congresso faziam emendas de lei remetendo dinheiro a entidades filantrópicas ligadas a parentes e cobravam propinas de empreiteiras para a inclusão de verbas em grandes obras.

           Na ocasião, o deputado João Alves, hoje já falecido, ficou famoso por ter afirmado que o dinheiro que deu origem ao seu patrimônio teria sido resultado de mais de 200 (duzentos) prêmios da mega-sena. Milhares de pessoas tentam a vida inteira e não conseguem um único prêmio da Loteria. O deputado baiano, no entanto, teve a sorte de ser premiado mais de duas centenas de vezes na Mega-Sena. De fato, é muito sortudo. Na prisão, como é de praxe, ninguém ficou.

           Para não nos alugarmos em detalhes de vários outros casos, limitamos tão somente a lembrar os escândalos do Tribunal Regional do Trabalho de São Paulo, que envolveu o ex-Senador Luiz Estevão e o Juiz Nicolau dos Santos Neto. Além desse, tivemos os casos da Coroa Brastel, do Banco Marka, dos Vampiros da Saúde, Banestado, e vários outros, muitos já esquecidos. Presos: não conheço ninguém. Nas recentes manifestações, milhões de brasileiros foram às ruas para deixar claro que consideram os políticos os principais responsáveis pelos desmandos e injustiças que inviabilizam o nosso País, sendo a corrupção o maior de todos os males propagados por essa "classe odiosa", segundo afirmações. Antes fosse tão simples assim. A carroça da nossa democracia não vai avançar muito se continuarmos a pensar dessa forma tão ingênua e reducionista. Claro que nossos "representantes" podem ser considerados grandes vilões dessa mal contada história do Brasil. Mas estão longe de serem os únicos.

           E se isso não ficar claro, qualquer esforço para moralizar nossa nação será inútil. Difícil mesmo é encontrar algum setor da sociedade que esteja imune às propinas, sonegações, desvios, falcatruas, malfeitos e indecências com o dinheiro público. Empreiteiras, bancos, indústrias, emissoras de televisão, botecos e indivíduos se irmanam no esporte nacional de lesar o Estado. Seja forjando licitações, subornando um fiscal da prefeitura ou falsificando uma carteirinha escolar para obter isenções.

            Para piorar, perdemos a capacidade de raciocinar com o mínimo de lógica: pedimos cadeia para corruptos, mas pouco nos importam os corruptores. Precisamos ter em mente que não há corrupto sem corruptor. Como se vê, os políticos e gestores públicos não são os únicos responsáveis pelos desvios de dinheiro público. Claro que muitos são culpados e estes deveriam responder pelos seus crimes. Diante dessa realidade, não restam dúvidas de que o Brasil de fato é o País Carnaval.

Nenhum comentário: